[Resenha] O Sol É Para Todos

O Sol É Para Todos
Título Original: To Kill a Mockingbird (To Kill a Mockingbird)
Autor(a): Harper Lee
Editora: José Olympio           Páginas: 364
Lançamento: 2015               ISBN:  9788503009492
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Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça.

Um livro dentro do livro. Foi exatamente desta forma que O Sol é Para Todos, de Harper Lee, entrou na minha vida. Vou explicar melhor. Eu li, não faz muito tempo,  dois livros que gostei muito, Mockingbird (Kathryn Erskine) e Sure Signs of Crazy (Karen Harrington), além de ambos serem protagonizados por duas garotinhas encantadoras e que haviam vivido algo traumatizante, as duas citavam constantemente Atticus Finch como exemplo, como amigo e até mesmo confidente.

Atticus é um dos personagens principais de O Sol é Para Todos e ver tantos elogios sobre seu caráter em outros livros foi o bastante para que eu desejasse conhecê-lo, o problema foi que eu não achava o livro em lugar nenhum. Para minha alegria veio a notícia que a sequencia deste clássico dos anos 60 estava chegando e o Grupo Editorial Record, pelo selo Jose Olympio, o relançou com uma nova tradução e projeto gráfico. Finalmente pude conhecer o senhor Finch.

A história, ambientada no sul dos Estados Unidos, acontece em meados dos anos 30 e é narrada por Scout, a filha caçula de Atticus Finch. Ela é uma garotinha perspicaz e ousada para uma época onde as mulheres eram cheias de recato e limites. Só por andar todo o tempo de calças e na companhia de dois meninos - o irmão mais velho Jem e o amigo Dill – ,  já era um motivo para deixar as velhas beatas da vizinhança de cara amarrada.

Só que seu pai não queria que ela fosse diferente e seguisse regras moralistas e antiquadas para agradar as pessoas, tentavam fazer uma média, mas tinham seu jeito próprio de viver. Ele não era um homem autoritário e para ser temido. Atticus criava os filhos de um forma diferente dos demais, dando espaço para expor a opinião, para desenvolver o intelecto e serem críticos. Permitia a liberdade para serem eles mesmos, mas nunca faltando com o respeito. Isso por si só já foi o primeiro ponto positivo para que eu admirasse este homem, a forma como era um pai amoroso, decente e único, que sabia ouvir e sempre tinha a palavra certa, na hora certa. Um sábio.

Na primeira parte do livro Scout nos apresenta a família e a cidade onde mora. Temos a oportunidade de conhecer seu irmão Jem e o amigo Dill,  são dois garotos que amam aventuras e junto com a menina vivem dias de travessura na pequena Maycomb. O alvo da garotada é a casa dos Radley, mas especificamente, Boo Radley, um homem, que segundo boatos, foi trancado ainda jovem  pelo pai dentro de casa e nunca mais saiu. Hoje já deve ser um senhor, só que ninguém sabe se ainda está vivo. E Scout e os outros morrem de medo de passar perto da casa, mas ainda assim tentam se aproximar para tentar ver Boo.

Foi bem divertido ver estas crianças brincando e aprontando, era tudo tão inocente e simples inicialmente. Este começo é leve, para apresentar personagens e costumes, fácil para envolver e cativar o leitor, preparando para algo mais denso que vem na segunda parte da obra.

Atticus, que trabalhava como advogado, assume uma caso complicado: defender um homem negro que havia sido acusado de estuprar uma jovem branca. Em uma cidade onde o racismo fazia parte do cotidiano, a vida dos Finch passou a ser tumultuada por ofensas e ameaças constantes. A segunda parte do livro é sobre a perda da inocência, mostra Scout e o irmão deixando de ver a vida só com cores felizes e obrigando-os a encarar o lado feio do ser humano. Ambos tão otimistas e crentes são confrontados com cenas violentas e feias, vivem dias de tempestade e represálias.

É uma história que trabalha caráter e valores. Ao mostrar o pior do ser humano e o quanto uma pessoa é capaz de agir de maneira estúpida movida por preconceitos banais, Harper Lee consegue também mostrar o melhor do homem. Temos assim os dois lados da moeda e embora nem sempre o bem vença, ainda tiramos algo muito valioso de sua história. É um livro que encanta do começo ao fim. É uma história atemporal, pois mesmo que tenha acontecido há tanto anos atrás, sabemos que certas coisas não mudam.  O preconceito está aí, não só racial como no livro, há tantas formas que testemunhamos diariamente. Na época de Scout não era usada a palavra bullying, mas a atitude que chamamos assim hoje em dia estava lá, queimando como um ácido e corroendo.

Claro que temos fatos que não estão de acordo com os dias atuais, como por exemplo o próprio código de vestimenta para mulheres e a profissão de Atticus ser considerada como serviço de preguiçoso, por outro lado é o lado moral que não muda. Também posso citar aqui, como algo imutável através nos tempos, a evolução do ser humano e a entrada de uma criança na vida adulta de forma um tanto brusca e sem desvios, onde comentários antes sem sentido passam a soar diferentes, com outra conotação. As pessoas passam a se mostrar não mais como algo homogêneo e sim mais complicadas, não totalmente ruins, mas não totalmente boas. Somos todos uma massa heterogênea de qualidades e defeitos.

Atticus Finch educou os filhos com amor e esmero, suas palavras para os confortar são tão profundas que atingem o leitor, são conselhos para cada um de nós. E não só ele brilha e nos conquista, Scout rouba a cena com seu jeito travesso. Jem, Dill, Calpurnia e até mesmo Boo são especiais.

Eu me peguei muitas e muitas vezes refletindo sobre algumas frases ou atitudes, me senti na pele dos personagens e confesso que fiquei muito emocionada em diversas passagens. É uma obra rica em conteúdo e belamente escrita, não cai no drama, é sutil nas investidas mais pesadas e muitas vezes vai te fazer rir, mas coloca na sua mente aquela sementinha que vai germinar e florescer com muitas perguntas.

É fácil de ler, não só por ser narrada pelo singelo e delicado ponto de vista de uma criança que enxerga o mundo sem malícia, mas por trazer uma linguagem objetiva e sem rodeios, sendo assim indicada para leitores de todos os níveis e idades.

Tanto o título original To Kill a Mockingbird, quanto o nacional, caem como uma luva no contexto, mas é mesmo O Sol é Para Todos que na minha opinião traz a mensagem que o livro transmite: igualdade. Todos temos direitos, deveres e merecemos justiça. Não é a cor da pele, a nacionalidade, o que você tem ou deixa de ter, que determina se você merece ou não algo, é seu caráter, sua dignidade e suas atitudes.

Eu recomendo sem dúvidas. Um livro para ler e reler. 

Assim eu descobri um livro dentro de outro. Isso já aconteceu com vocês? Adoraria saber qual foi o livro e se você leu e gostou.

Nota: Vencedor do Pulitzer, é considerado um dos maiores clássicos da literatura norte-americana moderna. Deu origem a um filme homônimo, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 1962, tendo Gregory Peck como Atticus Finch. A sequencia Go Set a Watchman já saiu nos EUA e vendeu  mais de 1 milhão de cópias só na 1ª semana, está prevista para ser lançada ainda este ano aqui no Brasil pelo Grupo Editorial Record. E olha a capa aí.




21 comentários:

  1. Bom, partindo já pro final da resenha eu tenho que concordar com você. O título nacional tem mesmo mais a ver com a trama toda. Pois pelo que li no corpo todo da resenha, a igualdade é para todos igualmente. Ficou redundante né? Desculpe.
    Mas eu adorei tanto a resenha que fiquei sem saber o que dizer direito... Só me restou ler o livro e amar também ♥

    Bjksss

    Lelê

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    1. O livro é lindo Lele, eu espero que você leia e curta tanto quanto eu curti.

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  2. Cida, que livro bacana você apresentou, eu ainda não o conhecia! a história realmente parece ser linda e reflexiva, além de tratar dos costumes de outras décadas
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  3. Olá!

    Muito linda sua resenha! Gosto muito de ler histórias em que a criança narra o mundo dos adultos, mesmo sendo um livro de época, que é algo que eu não curta muito. Excelente resenha, parabéns!

    resenhaeoutrascoisas.blogspot.com

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  4. Oi Cida...
    Ao contrário de você eu estou conhecendo a obra agora, pelo menos não me lembro de ter ouvido algo sobre antes..
    Uma narrativa pelos olhos de uma criança deve dar mais encanto ao livro, Tenho ouvido tantos elogios, que preciso ler.

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

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  5. Oi Cida!
    Adorei a resenha e a temática dentro do livro.
    Atticus parece um personagem incrível e que deve enfrentar muitos problemas em sua trajetória. Fiquei curiosa para saber como o caso se encerra.
    Beijos,

    Priscilla
    http://infinitasvidas.wordpress.com

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  6. Oie Cida =)

    Confesso que esse livro nunca tinha me chamado a atenção, mas depois de ler essa sua resenha sinto que estou perdendo a oportunidade de conhecer uma história incrível.

    Agora vou ter que arrumar um tempinho para ler esse livro rs...

    Ótima resenha!

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary




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  7. Olá Cida!
    Sempre quis ler O Sol é Para Todos, afinal sempre ouvi falar dele através de filmes e de alguns livros. Pela sua resenha tenho certeza que a história é maravilhosa e Vale apena ler.
    bjuu,
    orocardovento.blogspot.com/

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  8. Depois de "Passarinha" e "Pequenos Sinais de Loucura" também fiquei com vontade de ler "O sol é para todos", no Sebo que frequento tem uma edição velhinha que vivo paquerando acho que vou resgatar ela do mar de poeira e me deleitar com esse clássico!

    Há, sim, eu já descobrir vários livros dentro dos livros... :) Esse inclusive!
    Pandora
    O que tem na nossa estante


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  9. Olá!
    Faz pouco tempo que conhecia esse livro e desde então vem chamando a minha atenção.
    Sua resenha ficou ótima e me deixou ainda mais curiosa pela leitura.
    Beijos!

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  10. Oi.

    Primeira vez que vejo essa obra e já fiquei curiosa para conhecer.
    Não sou de ler muito essa linha, no entanto, sua resenha me despertou a curiosidade.

    Beijos
    http://www.amorliterariooriginal.blogspot.com.br

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  11. Oi Cida, tudo bem?

    Que livro bacana. Eu confesso que não daria uma segunda olhada no livro se não fosse a sua resenha. A capa não chamou minha atenção, mas é como dizem, não devemos julgar pela capa. A história parece ser bem emocionante e quero conhecê-la :)

    Beijos.

    http://livrosleituraseafins.blogspot.com.br/

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  12. Oi Cida,
    Já tinha ouvido falar sobre o filme, mas não sabia que ele tinha sido baseado em um livro. Confesso que de cara não seria um livro eu iria ler, mas saber que ele narrado por uma criança, além dos seus comentários positivos despertaram meu interesse, então no futuro quero conhecer sua trama.

    *bye*
    http://loucaporromances.blogspot.com.br/

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  13. OlAAA
    Sua resenha esta ótima como sempre e com certeza é um livro para ler e reler, eu adorei e estou ansiosa para a continuação hahha que bom que gostou ass como eu.

    Beijos
    Reality of Books

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  14. Cida!
    Não li o livro ainda, mas assisti um filme com a mesma premissa e acredito que tenha sido baseado no livro, embora não seja narrado pelo garotinho.
    É um livro que nos faz refletir mesmo, tanto pelo preconceito como por toda história.
    Adoraria ler.
    “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.”(Mahatma Gandhi)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    Participe no nosso Top Comentarista!

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  15. Oieee!!
    Eu quero muitooooo este livro, todo mundo falaaaa muito beem, e muitos deram graças qd foi relançado!!
    Adoro histórias profundas e tocantes como vc descreveu!!
    Bjos!
    Aline Praça
    www.leituravipblog.com

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  16. Oi Cida, tudo bem?

    Comecei a ler o livro para a Maratona de Inferno, mas como eu flopei do inicio ao fim essa maratona, larguei o livro para ler Trono de Vidro. Quero voltar a ler e espero que eu curta tanto quanto você. O estilo de narrativa, a ideia de contar sobre o cotidiano e tal me lembra muito O Apanhador em Um Campo de Centeio.

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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  17. Oi, Cida!
    Acho que minha história é parecida com a sua, porque conheci o livro através da citação de outro livro, mas no meu caso foi Passarinha. Fiquei meio perdida quando apareceu, mas ali soube da importância da história. Ainda não corri atrás pra ler porque minha fila tá mega atrasada, mas espero também ter oportunidade de conhecer essa obra e me encantar como vc.
    Beijinhos!
    Giulia - www.prazermechamolivro.com

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  18. Olá... tudo bem?
    Não curto a temática do livro, mas devo ressaltar que essa obra é grandiosa, digo isso por experiência das resenhas significativas que tenho lido, por ai e a sua é mais uma encantadora... é notável o quanto o livro mexeu com você... o quanto ele te cativou e te trouxe reflexões... parabéns... sua resenha ficou linda e traduziu toda a beleza que o livro tem.... para quem curte a temática deve ser uma leitura enriquecedora... ainda fico odiosa com o preconceito que existe, somos todos iguais... feitos de carne e osso, iremos morrer e sabe se lá pra onde iremos após isso... o que quero dizer... é que nascemos da mesma forma e morreremos um dia como todos... e esses julgamentos, essa violência por cor e classe social só me irrita... Xero!

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  19. Cida, também conheci esse livro atraves das várias citações e 'Claros Sinais de Loucura'. Eu não tinha me interessado, mas depois de ler tantas resenhas positivas, acho que irei me render ao clássico.
    Histórias que falam de injustiça/igualdade me tocam bastante e sei que com esse não será diferente.
    Tá na lista, um dia espero me encantar com ele tanto quanto você.

    Beijiinhos ;*
    Andressa - Blog Mais que Livros

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  20. Eu comprei esse livro e não vejo a hora de terminei minha atual leitura para começar a lê-lo! :D

    epilogo-literario.blogspot.com

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Um grande beijo!