Persépolis
Título Original: The Complete Persepolis (Persepolis)
Autor(a): Marjane Satrapi
Editora: Companhia das Letras Páginas: 352
Lançamento: 2007 ISBN: 9788535911626
Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita - apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa. Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares. Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama - e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.
Persépolis
sempre esteve na minha lista de desejados e quando surgiu a
oportunidade de conferir esta HQ não perdi tempo. Se está na sua lista também
não demore tanto tempo quanto eu demorei, pois é bom demais.
Marjane
Satrapi, ilustradora e romancista, nasceu em 1969 no Irã e
através desta biografia nos conta como foi crescer em um país assolado por
diversas guerras. Persépolis é a história de sua vida, da vida de uma jovem de
opinião forte que se viu obrigada a deixar seu lar para não sofrer retaliação.
Marji era apenas uma criança quando foi
obrigada a usar véu e estudar em escolas só de meninas. Na escola ela e as
outras não entendiam o significado daquele pano na cabeça e com
extremo bom humor nos mostra como foi a fase de adaptação. Este
acontecimento é um de de muitos que mostra que a cada mudança política no pais o
povo era obrigada a absorver desde novos preceitos religiosos até uma completa
mudança nos costumes.
Enquanto houver petróleo no Oriente Médio, não haverá paz. Política e sentimentos não se misturam.
A perda da identidade cultural e religiosa
se faz sentir a cada nova página. A pequena Marji de cara não entende bem, mas
logo a inocência da infância vai dando lugar ao fervor da adolescência - um
fervor por impor sua opinião - sinônimo de risco iminente em um país onde as
mulheres deveriam ser submissas.
A visão inocente e despida de maldade - de
uma garota que não entende bem a gravidade da situação que vive - dá lugar para
revolta e tristeza. Marji perde entes queridos, quase é detida para investigação
e passa a notar que tragédias medonhas a cercam. O ser humano é massacrado e
humilhado em cada esquina e temi que ela logo fosse mais uma vítima.
Marji foi uma menina afortunada por
pertencer a uma família tão aberta ao diálogo e as novas ideias. Nunca
repreendida em casa por ser tão questionadora sobre a crise e as diferenças
sociais. Ela foi educada para ser quem e o que quisesse. Os pais,
revolucionários convictos, não podaram as asas da filha, mas no momento que
viram que não poderiam mais protegê-la a enviaram para fora do país.
A primeira parte de Persépolis é focada na
infância e entrada na adolescência de Marji. Há um humor inteligente em cada
quadro, que serve como um bálsamo nos momentos que acontecimentos trágicos são
contados. Não perde a seriedade dos fatos, mas passa a mensagem de maneira mais
delicada e sensível para o leitor. É notável.
No entanto, logo que a jovem deixa seu lar
o clima da história fica mais sombrio e denso, pois ela passa por uma fase bem
ruim, não entrarei em detalhes sobre as experiência vividas por Marji, mas
garanto que ele é obrigada e crescer e amadurecer de maneira dolorosa. Há uma
perda de identidade cultural, um medo de ser quem sempre foi. A pressão de ser
um imigrante a sufoca, mas as raízes serão sua salvação. Vamos ver como um povo
um dia exaltado, foi marginalizado anos mais tarde.
Era uma Ocidental no Irã, uma iraniana no Ocidente. Não tinha identidade alguma. Não via nem mesmo porque estava viva.
Anos mais tarde retorna para o país, só que
sem aquela vivacidade que a colocou em perigo no passado. E seguimos mais uma
vez seus passos por um caminho complicado, de busca de identidade e de um
caminho para o futuro.
Percebam que é uma história longa, que se
passa durante anos. Isso não apenas nos envolve, pois queremos saber o que
acontecerá com Marji, mas também nos permite uma total imersão na história de um
povo, em sua cultura, política, religião e formação. É uma aula de história
apresentada em forma de quadrinhos. Uma aula dinâmica, carregada de emoção e
vida. Eu me perdi nesta páginas. Fui cativada pelos personagens, senti na pele
cada alegria e cada tristeza. Tive vontade de lutar suas batalhas e me orgulhei
de cada conquista.
Eu amei cada membro daquela família, cada
interação entre eles é para trazer um sorriso ao nosso rosto. A mãe, a avó e o
pai foram essenciais para nossa Marji. O pai era diferente dos homens de seu
povo, nada de macho-alfa-dominador e a mãe era muito mais autoritária do que
ele. Acredito que esta base foi o que permitiu que hoje tivéssemos Persépolis em
mãos. Marji teve apoio para ser mais do quem um figura passiva dentro de um
cenário de dominação e jogos de poder. Ela foi uma voz, uma pessoa, um mulher
- de alguma forma - livre.
Persépolis não é uma história em quadrinhos
fictícia, é uma história real! É fervorosa e cheia de personalidade como sua
autora. Vai te fazer rir, chorar e amar. Revolta, ansiedade, alívio. Uma gama de
sentimentos. Impossível ficar indiferente ao relato. Aprendi sobre um povo que
eu tinha pouca familiaridade, mas depois de ver um lado
da história deles que mostra tanta fragilidade e desejo de liberdade, eu não
consigo desejar nada além de um fim para tantos conflitos e opressão. Sai da
zona de conforto. Em suma, não deixem de ler.
Nota: Em 2007,
Persépolis foi transformado num longa-metragem de animação, que estreou no
festival de Cannes, recebendo também indicação ao Oscar.
Que lindo!!!
ResponderExcluirEu tenho, mas ainda não tive coragem de ler, rs. Porém, amei tudo que você disse, principalmente a parte "fervorosa", prevejo terminar essa leitura em posição fetal no cantinho da minha cama.
Bjks
não tem forma melhor de conhecer um país do que ouvir os relatos se seus próprios habitantes
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Olá, tudo bem? Esse livro parece ser muito bom, tenho vontade de ler, pois todos falam muito bem. Adorei a resenha!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Eu li e reli este livro quantas vezes pude, até me formar na escola e ter de devolvê-lo uma última vez à biblioteca. Acho que esse tipo de leitura é a melhor: você adquire conhecimento de uma forma mais leve, mesmo se tratando de um assunto pesado. Quero muito comprá-lo para continuar relendo e a cada vez, aprender algo novo e reparar em algo que antes não havia notado.
ResponderExcluirBeijoca! 💋
Desenrola, Gabriola!
Não conhecia esse livro, achei interessante, mas confesso, não me chama muitaaaa atenção... Não que eu não valorize um livro que aborda uma temática séria como esta, mas acho que no momento eu não me entregaria a obra com toda a eficiência que uma leitura ideal requeriria.
ResponderExcluirAbraços,
Blog Decidindo-se \o/
Oi Cida!! Persépolis também está na minha de desejados faz tempo!! lendo sua resenha só me deu vontade de ler ainda mais! Parece ser uma obra incrível e é sempre bom sair da zona de conforto mesmo!
ResponderExcluirBjs, Mi
O que tem na nossa estante
Oi Cida,
ResponderExcluirAh, eu ainda to enrolando pra ver animação e então, imagina pra ler HAHA
Está na minha lista de desejados, a HQ parece estar linda. Adorei.
P.S.: Obrigada pelo comentário lá na postagem da 'treta' haha realmente, a falta de maturidade às vezes assusta e afasta possibilidades de ajuda.
tenha uma ótima semana :D
Nana - Obsession Valley
Oi, Cida!
ResponderExcluirEu não sou muito fã de quadrinhos, mas esse eu quero muito ler justamente por se tratar de uma história real.
Beijos
Balaio de Babados
Participe da promoção seis anos de Caverna Literária
Olá, Cida.
ResponderExcluirEu não sou muito de ler HQs, mas essa me interessa por falar de algo que eu gosto de ler. E já li várias resenhas positivas sobre ela. Assim que der eu vou comprar. Gosto de ler histórias que vemos as coisas pelos olhos inocentes de alguma criança.
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