Antes da chegada da internet, Stephen King já imaginava um futuro de reality shows letais e vigilância total. Escrito nos anos 80, O concorrente apresentou um mundo em que a TV vira tribunal, aviões viram armas e a audiência decide quem merece viver. No ano de 2025, os Estados Unidos afundaram em miséria, poluição e repressão. A única coisa que ainda funciona - e muito bem - é a televisão. Controlada por uma megacorporação implacável, a programação oferece ao povo o que ele mais deseja: violência, drama e sangue ao vivo. É nesse contexto sufocante que Ben Richards, um homem desesperado, sem emprego e com uma filha doente, aceita participar de O Foragido, o reality show mais mortal da grade: trinta dias de fuga ininterrupta, enquanto é caçado por assassinos profissionais. Cada passo seu é filmado. Cada delator ganha um prêmio. Cada erro pode ser fatal. Ao longo de uma caçada que se estende por cidades, florestas e ruínas industriais, Richards se torna algo mais do que apenas um alvo: ele se torna um símbolo incômodo de resistência em um mundo onde a vida humana vale menos que a audiência do horário nobre. Mas esta não é uma história de heróis. Com ritmo alucinante, crítica afiada e um pessimismo quase profético, O concorrente revela o lado mais sombrio de uma sociedade viciada em espetáculo. Escrito por Stephen King sob o pseudônimo Richard Bachman, este romance distópico é um clássico cult que antecipa a era dos reality shows, da vigilância e da desumanização como entretenimento, e que nos obriga a perguntar: até onde estamos dispostos a ir por diversão?
No ano de 2025, os EUA vivem o mais completo caos. Grande parte da população, desinformada, afunda na miséria, enquanto a poluição mata indiscriminadamente. Uma única emissora de TV dita as regras da nação, e os reality shows se tornam a fonte obrigatória de entretenimento — cada casa precisa ter uma televisão ligada o tempo todo. Esses programas, absurdos e mortais, alienam e destroem os cidadãos, mas, ainda assim, não deixam de atrair mais e mais espectadores dispostos a participar de seus desafios insanos.
Ben Richards precisa de dinheiro para tratar a doença da filha. Ele não suporta mais ver que a única renda da família vem da esposa, que é obrigada a vender o próprio corpo. Desesperado, ele entra no reality O Foragido, no qual precisa fugir de caçadores e sobreviver para receber o prêmio em dinheiro.
Ele se torna não apenas um jogador, uma presa, mas também um homem odiado pela nação devido à propaganda enganosa do programa. Enquanto o público o vê como símbolo de rebeldia e criminalidade. Ben está apenas lutando por aqueles que ama e tentando abrir os olhos das pessoas para a realidade que as cerca. Uma contagem regressiva rumo a um fim inevitável — ou talvez um novo começo.
Essa é minha segunda experiência com King escrevendo sob o pseudônimo de Richard Bachman, e mais uma vez gostei dessa voz mais crítica e visionária do autor. A obra, escrita em meados dos anos 80, retrata um mundo distópico em completa decadência moral, onde as pessoas confundem entretenimento com a perda total de humanidade e, em nome da própria diversão, mergulham em uma selvageria sem fim. É como observar o ser humano regredir em suas conquistas intelectuais, abandonando a racionalidade para viver como um animal que se satisfaz com a desgraça alheia e com o sangue derramado.
O conteúdo é forte e impactante e, embora — felizmente — o nosso 2025 não seja esse horror, sempre fica o receio de um dia regredirmos a esse ponto e nos tornarmos dominados pela mídia e pelos seus meios de “diversão”. De sermos vítimas de uma grande lavagem cerebral. E, quando paramos para refletir, percebemos que alguns temas abordados já fazem parte dos dias atuais.
Ainda que de forma radical, a obra nos deixa em alerta sobre o que devemos consumir e como digerir. Nesta era digital, em que temos acesso à informação na palma da mão com um simples toque, é preciso cuidado com a maneira como somos influenciados e com o modo como construímos nossas opiniões. Acredito que, ao escrever a obra, King realmente enxergava a possibilidade de a humanidade se afogar nesse caminho.
Eu gostei muito do livro e de acompanhar a jornada sofrida de Ben. Não concordei com todas as atitudes dele, mas entendi suas motivações. Não esperava aquele final agridoce, onde existe vitória na derrota — ou talvez derrota na vitória. Foi marcante, eletrizante, assim como toda a história e suas complexidades.
Os comentários de King sobre sua obra e seu processo de escrita são sempre um bônus. Funcionam como uma história à parte, tão interessantes quanto a ficção, ajudando a compreender ainda melhor o que acabamos de ler. Eu amo esses contextos do mestre.
Eu poderia passar horas debatendo as ideias deste livro, mas deixo apenas um conselho: leiam!
Assim como A Longa Marcha, este livro também recebeu adaptações para as telonas neste ano e estreia esse mês nos cinemas.
















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