{Resenha} Jogo da Memória

Jogo da Memória
Autor(a): Laura Bergallo
Editora:  Escrita Fina      Páginas: 164
Lançamento: 2010         ISBN: 9788563248015                 Compare Preços

O jogo da memória sempre foi um dos passatempos preferidos da família de Lucca. O campeão imbatível na brincadeira é vô Pietro, um italiano bem- humorado que adora reunir todo mundo em torno do tabuleiro. Por isso, quando o vovô-craque começa a perder o jeito da disputa, é sinal de que algo de muito errado está acontecendo. Em pouco tempo, o patriarca estaria confundindo o nome de filhos, netos e da própria mulher. Inconformado com o problema, Lucca acaba descobrindo que a memória de seu avô foi roubada por uma quadrilha de perigosos bandidos, que ganham dinheiro vendendo as lembranças alheias. Com a ajuda de seus primos Gabriela e Rafael, e uma mãozinha extra do computador, Lucca arma um plano para recuperar a memória de vô Pietro. 

Jogo da Memória traz a história de Vô Pietro nas palavras de seu neto Lucca. Nos apresenta uma típica família italiana, com um patrono muito bem humorado, que sabe ser severo quando precisa. 

Fã de jogos da memória, Vô Pietro encanta o neto com a sua sagacidade. Ninguém da família consegue vencer o velhinho, dono de uma memória sem igual, impressiona à todos que ousam desafiá - lo neste jogo.

Em uma tarde, ele deixa o jogo de lado e divide com Lucca a história do grande amor de sua vida, que tem como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial. Ele passou por muitas provações nesta época e só a vontade de voltar para os braços de sua mãe e de sua amada Giulia, o manteve vivo.  

Para Lucca este momento foi inesquecível, ali ele teve certeza que conhecia seu avô melhor do que qualquer outra pessoa, que ambos tinham um grande segredo. Ao dividir com o neto aquela parte de sua vida, foi como se ele estivesse deixando suas memórias gravadas. O relato da guerra é duro e triste, porém as mudanças que acontecem com o vovô, são bem piores.

A confusão, o esquecimento, o distanciamento e a falha da ótima memória, alertam a família que algo não está bem, e logo o bom senhor é diagnosticado com o mal de Alzheimer. Não demora muito, e a internação passa a ser a única saída para o Vô Pietro.

Lucca decide que precisa ajudar o avô, procura em um site de buscas a solução e descobre o Shopping da Memória, junto com os primos Gabi e Rafael, vai em busca da cura do avô, mergulhando assim em uma grande aventura. 

Narrado em primeira pessoa por Lucca, este livro traz uma história de esperança, amor e fé. Mostra a beleza do relacionamento do neto com o avô, os horrores e traumas de uma guerra e a devastação que uma doença causa em uma família. O mal de Alzheimer rouba muito mais que as lembranças de uma pessoa, ele tira a alegria daqueles que estão ao seu redor.

A escritora Laura Bergallo conseguiu abordar este tema sério, que é o mal de Alzheimer, de uma maneira criativa e terna. A forma como ela conduz a busca de Lucca pela cura do avô, nos cativa e enche o coração de esperança. Foi algo bem fantasioso, mas que conseguiu tratar de algo triste de maneira mais suave.

Foi uma leitura muito gostosa e nostálgica, lembrei dos livros da Série Vagalume, que é uma série infanto- juvenil com ótimas publicações, que traz lindas histórias de maneira bem contada e fluída, iguais a esta aqui.

Um detalhe muito legal do livro, são as ilustrações que complementam o enredo, todas primorosas.

O livro emociona, mas também faz sorrir. Eu recomendo para toda a família.

"Aqui me tenho. Sem mim

Nada lembro. Nem sei

À luz presente. Sou apenas um bicho

Transparente

E ele não virava a página. Desde que eu estava ali, já tinha dado tempo pra ler o mesmo texto umas dez vezes, mas vovô não mudava de página ou desviava os olhos, como se estivesse fascinado por aquelas palavras.

Foi quando eu percebi que ele estava chorando.

Não consegui entender bem por que, e fiquei sem saber o que fazer. Não queria que ele soubesse que eu, mais uma vez, o tinha visto com o nariz vermelho e os olhos inchados de choro. Então fiquei o mais quieto que pude, e fui saindo pé ante pé, até chegar na sala e tentar disfarçar, pra mamãe e pra vovó, o nó na garganta que quase não deixava minha voz sair.

Foi nesse dia que eu desconfiei seriamente que ele estava indo embora pra sempre."

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