
Com uma linguagem que transita entre o poético e o cortante da lâmina, Fabíola Simões esculpe uma trama que faz os joelhos vacilarem em alguns momentos; em outros, nos envolve e nos oferece um refresco. A história desse livro começou há muito tempo. Para ser exata, há 40 anos. Quem começa narrando os acontecimentos é Eulália, menina de 12 anos que pensava estar vivendo um rascunho, um ensaio para o que seria a vida real, aquela que ela imaginava estar muito distante, num lugar chamado Futuro. Eulália não tinha a mínima ideia, mas a vida real ― com sua Solidão, Abandono, Porões e Mistérios ― já se desenrolava bem na sua frente, e seria o alicerce para todas as experiências vindouras. O olhar carregado de leveza, a facilidade com que transformava a realidade em aventura e os questionamentos inocentes frente à Vida e à Morte camuflam as angústias vividas naquele período. Se tivesse vocabulário, talvez nomeasse sua Solidão. Se colecionasse argumentos, talvez assumisse seus Medos. A jornada de Eulália rumo ao amadurecimento é um convite a visitarmos nosso passado e a ressignificá-lo com aceitação e perdão. Um livro que nos inspira a acolhermos as crianças feridas que nos habitam e darmos um novo lar para elas. Um presente literário para todas as almas que já enfrentaram momentos difíceis, para os corações que sentiram falta do toque humano, e uma lembrança de que é a esperança quem nos conduz de volta ao amor.
Eulália era filha de uma mãe conservadora e um pai patologista. Ela cresceu tendo em mente que deveria ser agradável e nunca contrariar os outros, em especial a mãe. O resultado foi que Eulália disse tanto "sim" para os outros, que esqueceu de dizer para si mesma. Elogiada por seu comportamento dócil, se viu já na idade adulta e com filhos, sem saber quem era ela mesma, sem saber o que queria e o que sonhava para si.
Por outro lado temos Alma, que ainda bebê foi deixada na porta do trabalho do pai de Eulália e a família a adotou. Alma é diferente dos demais em alguns aspectos e isso causa muita comoção na família. A mãe das meninas acha que precisa exorcizar a filha.
Conforme Alma vai crescendo, percebe que há muitas diferenças entre ela e a irmã. Contudo, isso não impede que um laço forte se forme entre as garotas, um laço que as unirá por toda a vida.
Melodia de Trovões traz a história das irmãs Eulália e Alma desde a infância até a vida adulta. Nessas quase duzentas páginas, a autora mostra o crescimento das duas, os dilemas enfrentados durante toda a vida e diversos obstáculos para serem superados. Ela foca bastante em como ambas têm personalidades opostas, mas também em como o amor de uma pela outra sempre as uniu e as fez seguir em frente.
O maior desafio de Eulália é descobrir a si mesma e viver para si e não pelo outros. E Alma a instiga a se desafiar e agir. Já Alma busca entender suas raízes e vai em busca de seu passado. Neste ponto Eullia está ao seu lado em cada passo da investigação.
Posso dizer que a jornada de Alma é mais comovente, sua concepção foi marcada pela violência e o abandono foi a única chance de sobreviver que sua mãe biológica encontrou para a Alma bebê. Não que a jornada de Eulália seja menos importante, ela é uma mulher renascendo, recomeçando.
Esse foi meu primeiro contato com a escrita da autora e senti que ela gosta de narrar com o coração. Fabíola Simões entrega essa história de maneira direta, crua, sem minimizar os acontecimentos na vida das personagens. Ainda assim, mesmo o texto sendo impactante, não deixa de lado a sensibilidade, a gentileza, o amor. A autora mescla entre trechos poéticos e outros de uma escrita mais tradicional, para causar impacto e fazer com que os sentimentos das personagens saiam das páginas.
É uma história que leva o leitor a refletir, faz ter vontade de abrir o coração e acolher as pessoas. Além disso, nos faz encarar a forma como vivemos: se estamos mesmo nos valorizando, nos colocando em primeiro lugar e enfrentando nossos medos. É sobre saber quem somos, de onde viemos. É sobre recomeçar, redescobrir, amadurecer e buscar a felicidade.
"Mais tarde eu descobri que a gente pode ficar em carne viva não só porque come as peles em volta das unhas, mas porque alguém vai embora e rasga a gente em pedaços indivisíveis que quase ninguém vê."
Oi Cida, tudo bem?
ResponderExcluirGostei bastante da resenha, mas menina, essa quote no final foi o que me pegou forte, viu? Que linda, que intensa. Adorei a finalização da resenha com ela!
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Oi, Cida! Parece ser um livro fantástico com um lado humano e sensível. Não conhecia a autora, mas tive uma impressão muito positiva através da sua resenha e espero ter a oportunidade de ler. Gostei de ser focado na vivência das duas irmãs.
ResponderExcluirBeijos
Oi!
ResponderExcluirLivros mais curtos de drama costumam ser bem diretos e crus né? A gente espera uma leitura rápida e sai impactado em 5 minutos.
Beijão
https://deiumjeito.blogspot.com/
Oi Cida, tudo bem?
ResponderExcluirNão conhecia o livro, mas a trama parece fisgar o leitor do inicio ao fim. Dica anotada!!
*bye*
Marla
https://loucaporromances.blogspot.com
Oi Cida, tudo bem? Não conhecia o livro nem a autora e jamais imaginaria a trama apenas pela capa. Gostei de conhecer mais da história pela sua resenha que complementou muito bem a sinopse. Não é muito meu tipo de leitura, mas fiquei curiosa para saber o desfecho da história.
ResponderExcluirAté breve;
Helaina (Escritora || Blogueira)
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